Ao meu ver um dos maiores desafios de ser uma agência e operadora de moto-turismo é a criação e planejamento de novos roteiros, e diferente do que se imagina, isso é feito a campo, longe de computadores e sites dos concorrentes.

 

Uma nova viagem nasce de uma esboço preliminar, este sim feito fechado num mapa, e depois vai a campo ver e sentir buscando o que era a ideia inicial, esse roteiro que tem que ter uma linha guia cultural, uma homogeneidade geográfica e coerência, assim assimila-se mais sobre uma região e não fica só pulando de uma país para outro colecionando carimbos no passaporte.

 

Você já deve imaginar que nestas viagens de exploração e reconhecimento acontecem coisas muito divertidas, tanto é que mais de um cliente já quis fazer parte destas viagens… Os mais loucos, talvez. rs

 

Certa vez, idos de 2015, explorando o que seria nosso Tour Leste Europeu, estávamos no interior da Eslováquia, era fora de temporada e o frio atacava sem dó, Cecilia a bordo de uma GS 1200 e eu com uma KTM 990 sem aquecedor de manoplas ou qualquer outro luxo.

 

Estávamos perto das majestosas montanhas dos Tratras, mais especificamente no seu parque nacional mais importante. Por termos praticado montanhismo por décadas, eu e Cecilia sabíamos que haveria de ter um abrigo de montanha lá em cima, talvez um local interessante para uma visita… Algumas estradas subiam as encostas e uma delas me chamou muito a atenção, era estreita, havia uma guarita de acesso que não havia ninguém e decidimos subir.

 

A Cecilia no comunicador, já com as mãos roxas, perguntava se eu sabia onde eu estava indo e a resposta era clara:  Não, mas eu achava que ia ter algo interessante lá em cima.

 

De fato, tinha, tinha uns 30cm de neve sobre o asfalto quase intransponíveis e debatemos se deveríamos subir ou não. Eu estava decidido a tentar, parecia que algum veículo 4×4 tinha passado por ali a pouco e a marca de um pneu na neve se tornou o caminho perfeito para a subida.

 

Os pneus lisos de asfalto não ajudavam muito e a Cecilia que é extremamente leve não fornecia o peso necessário para o pneu tracionar na neve em alguns trechos… Eu a empurrava e subíamos mais um pouco. Era hilário ver aquelas perninhas de 1,63m tentando ajudar…

 

Lá em cima, onde a estrada acabava num largo, estávamos envoltos de neblina e mal podia se ver o abrigo de montanha, mas ele parecia maior do que eu esperava. Entramos e todos nos olharam atônitos: como vocês vieram aqui de moto?

 

Aquilo não era um abrigo e sim um hotel 4 estrelas disputado por montanhistas de todo o mundo. As maravilhosas fotos na parede mostravam como a região era no verão e a bela cachoeira que estava bem de frente ao hotel perdida e invisível pela neblina. Aquele local estaria definitivamente no nosso roteiro!

 

Até hoje, depois de ter brindado com mais de uma centena de motociclistas brasileiros nesse lugar mágico eu olho para trás e penso: que satisfação é arriscar para fazer uma trabalho bem feito, original, sem cópias, e com a força e recursos próprios, buscando sempre os nosso ideais mais puros e assim olhar para nossos clientes e saber que se aquelas lagrimas de alegria estão ali porque um dia muito suor e dedicação foi colocado à prova, muitos dedos ficaram duros de frio e muitas escolhas deram em nada, já outras, são nosso prêmio para toda a vida!

 

Nada nem ninguém tirará o sabor de vitória e pioneirismos que eu sinto cada vez que eu subo aquela estradinha… E cada abraço grato de um cliente me faz ter vontade de continuar sempre em busca do lugar perfeito para um Tour único!